"Minha meditação me queima, Senhor! Mas me deixai falar para me desafogar."
Jorge de Lima

domingo, 12 de setembro de 2010

Desventuras em Buenos Aires - Parte II

Esta é uma continuação do relato contido no post anterior. Se você ainda não conferiu, é melhor começar por ele...
Depois de fechar todas as malas e constatar que estava tudo em ordem, eu e minhas primas decidimos que seria bom se pudéssemos comer alguma coisa. Como não havia muito dinheiro e como não queríamos deixar as malas sozinhas no albergue, ficou decidido que eu ficaria ali na sala de tv com as malas, enquanto as meninas saíam para procurar um supermercado ou qualquer outro lugar onde pudessem comprar alguma coisa para comer.
As duas saíram e eu fiquei ali jogado no sofá. Estava sozinho, mas logo apareceu companhia: primeiro um moço com um touquinha azul ridícula que evidentemente se sentou ali para esperar alguém e depois um homem, que mais parecia um armário, se sentou ali para tomar uma cerveja sem o agito do bar, no andar de cima. No entanto, apesar da presença dos dois estava tudo em paz e, por isso, fiquei ali de boa sem ser incomodado por ninguém.
Logo minhas companheiras de viagem voltaram abarrotadas de comida. Levantei-me e fui com elas até umas mesinhas que ficavam ao lado da cozinha. Hora da comilança!
Mas algo me incomodava:
"Não é melhor a gente trazer as malas para cá, junto de nós?", perguntei.
"Não! Daqui dá para vê-las. Não é preciso.", respondeu minha prima.
Levando isso em conta, começamos a comer. Logo apareceu mais uma rapaz, amigo do touquinha-azul, que havia feito a mesma coisa que as meninas e trouxe comida para os dois. Eles também se sentaram a outra mesa.
Foi aí que começou a parte interessante da história. De repente a porta que dava para as escadas se abre e entra um moço de mais ou menos uns 25 anos, cambaleando tanto que nem conseguia ficar em pé. Ele estava completamente bêbado. Veio caminhando na nossa direção, e eu pensei que ele fosse querer falar com nós, mas ele passou direto e entrou no banheiro. Minha prima mais nova disse que ele fez um sinal para ela, que ela achou que fosse aquele que significa "Estou de olho em você!". Ela ficou com um pouco de medo, mas enquanto falávamos disse, o cara saiu do banheiro, parou ao nosso lado e disse com a voz mais molenga do universo e gesticulando do mesmo jeito que havia feito para minha prima antes de entrar no banheiro: "Descuuuuulpe, I haaave....." (as reticências representam a parte que não fomos capazes de entender). Ficamos olhando para ele com vontade de rir, mas tínhamos medo de ele irritar-se. Diante do nosso silêncio ele parou de falar e começou a fazer um gesto com a cabeça, dizendo: "No? No?". Então ele sacudiu os ombros e foi cambaleando até a sala de tv. Minha prima mais nova, como não podia deixar de ser, começou a rir com gosto do moço. Minha outra prima disse a ela para moderar o tom, pois o cara podia ficar bravo. Nesse meio tempo, o bebum conseguiu chegar lá e sentou-se ao lado do homem-armário, tentando puxar assunto com ele, que evidentemente não queria bater papo com um bêbado; por isso ele se levantou e sentou-se em outro sofá.
A porta se abriu de novo. Dessa vez entrou o coleguinha do bêbado. Ele segurava uma taça de vinho e, como o outro, mal conseguia parar em pé! Os dois fizeram sons naquela língua estranha de bêbado quando se reconheceram e o segundo bêbado também foi à sala de tv. Minha prima mais nova, sempre aos risos: "Ah lá! Ele batizou o chão e o sofá com vinho!". De fato, o cara mal conseguia segurar a taça e derrubou quase todo o seu conteúdo. Depois de colocar o "vaso sagrado" na mesa, ele voltou até a escada e voltou carregando o fio de um computador, como se fosse um pêndulo. Nesse momento, ninguém na sala fazia muita questão de esconder que estava dando risada dos dois. A seguir foi a vez de ele trazer um computador. Os dois colegas sentaram lado a lado no sofá e ficaram um pouco em silêncio. Continuamos a comer, agora conversando sobre outras coisas.
De repente minha prima mais nova: "Eles estão no maior love!". Quando me virei, o segundo bêbado usava o computador, e o primeiro repousava a cabeça no ombro do amigo num gesto de cooperação e amizade entre bêbados! Não satisfeitos com o estado em que se encontravam, o segundo decidiu acender um baseado, ali no meio da sala de tv mesmo. Aquele cheiro horrível de maconha invadiu a sala, mas logo passou.
Depois de um tempo, o segundo fechou o computador, e os dois se levantaram e saíram abraçados, pois pensavam assim que conseguiriam andar. Eles pararam perto do touquinha-azul e seu amigo e tentaram conversar com ele, mas o moço, como a gente, só ficou dando um sorriso amarelo. Então os dois, mais para lá do que para cá, saíram da sala. Todos começaram a dar risada dos dois, até o homem-armário, que, de volta ao seu lugar, olhava para nós rindo à beça.
Me pergunto se aqueles dois conseguem sobreviver sozinhos...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Despejados em Buenos Aires

Pobre quando viaja é assim: se mete em um monte de roubadas (não que eu reclame! haha). Na semana passada viajei com as minhas primas para a cidade mais brasileira fora do Brasil: a capital de los hermanos. Passamos um excelente fim de semana. Na verdade, era um daqueles raros momentos em que se melhorar um pouco estraga. Ficamos num albergue muito bom na Avenida de Mayo, que liga a Casa Rosada ao Congresso Nacional. O albergue era maravilhoso e ficamos muito bem hospedados por exatos 2 dias e três quartos.
Era domingo já. Hora de voltar para casa. Carregados com sacolas, voltamos para o albergue, cansados e com vontade de tomar um banho. Subimos as escadas com esforço e chegamos ao quarto, mas ao abrir a porta tivemos uma baita surpresa: em vez dos dois beliches que haviam sido postos ali para nós, havia uma cama de casal: havíamos sido despejados! Procuramos pelo quarto, mas as nossas malas não estavam por lá. Deixamos as coisas em cim da cama e fomos à recepção. Lá embaixo quem estava no turno era um argentino baixinho e com cara de espertalhão. Quando perguntei com ele o que havia acontecido, ele ficou surpreso e exclamou: "Ah, então são vocês!". E depois explicou que não tínhamos que ter feito o check-out até as duas da tarde porque o quarto seria ocupado por outra pessoa! Eu e minhas primas nos olhamos entre nós e eu perguntei onde diabos estavam as nossas malas. O funcionário do albergue apontou para um escritório ali atrás e disse para que nós o acompanhássemos. Fomos até lá e ele apontou para um canto. Estavam lá. As duas malas e a minha mochila e mais uma sacola enorme com as coisas que tínhamos deixados fora das malas estavam jogadas e não fazíamos a mínima ideia se tudo estava lá dentro.
Perguntei no mais puro portunhol como iríamos fazer para arrumar as nossas coisas e o cara respondeu que podíamos ir na sala de tv no subsolo, pois ali era um lugar bem calmo.
Decidimos fazer como ele disse e por isso pegamos o elevador para o subsolo. Na sala de tv, arrumamos um canto e começamos a arrumar nossas coisas em público! Foi tão engraçado! Ainda bem que pelo menos nada havia sumido, exceto uma garrafa de águas e alguns bolinhos que estavam no quarto.
Nossa preocupação era colocar nas malas as coisas que tínhamos comprado, pois achamos que não haveria espaço. A ordem portanto foi socar tudo na mala! No final acabou mesmo dando tudo certo. Só uma das malas foi difícil de fechar, por isso, tive de me sentar nela para que o zíper fechasse. Nada de muito preocupante, portanto...
Pena que a história ainda não acabou...

Continua...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

domingo, 15 de agosto de 2010

A ruivinha do trem

Em dias de solidão a gente começa a reparar mais no mundo ao nosso redor.
Tinha tudo para ser um mais-um-dia. Como de costume, havia me enfiado no meio da mutidão, em busca de sobrevivência ou, pelo menos, tentando chegar ao trabalho no horário. O trem estava cheio e o meu olhar vagava de lado a lado, pois nessas horas vem uma inquietude indescritível, que terminou com o aparecimento de uma bela figura, uma ruivinha pequena e elegante. Não sei de onde veio, mas quando me dei conta ela estava em pé do outro lado do vagão. Sua figura contrastava com o mundo ao seu redor: ela, tão delicada e pequena no meio de um mundo hostil e agressivo. O rosto sereno diferenciava-se do silêncio conformista que reina na cara das pessoas nessa situação.
Enquanto esperava o trem partir, colocou os fones de ouvido e começou a se deliciar com algum tipo de música. A boca pequena movia-se com afinco, acompanhando o ritmo e a letra, provavelmente rápidos, da música. Como ela era linda! Não conseguia tirar os olhos dela. Tentei desviar o olhar, pois não creio ser de muita educação ficar observando as pessoas dessa forma, mas foi em vão: logo eu não resistia e voltava a pregar os olhos no seus cabelos de fogo.
O trem já havia partido. Numa curva a luz do Sol repousou no rosto dela, o que lhe deu uma nova graça, pois realçava o branco da sua pele e o leve corado nas bochechas. Incomodada um pouco pela luz, ela fechou os olhos, mantendo a cabeça um pouco inclinada para a direita numa expressão de serenidade, causada talvez pela música que ouvia.
Num das paradas de estação, desviei a atenção para o empurra-empurra travado logo atrás de mim. O trem retomou o movimento. A ruivinha estava agora de lado em relação a mim. Ela havia mudado de posição para que pudesse arrumar o cabelo, enquanto segurava com a mão esquerda um espelho de bolso. Depois de guardar, ela, distraída, ficou brincando com um dos caracóis do seu cabelo. E como fazia isso com charme!
Você vai me perguntar: Será que alguma vez ela olhou na minha direção. E a resposta é sim. E foi uma só vez. O olhar dela me paralisou momentaneamente. Mas como disse foi só um momento. Logo seus olhos se perderam na paisagem pela janela.
A viagem estava terminando. O trem parou e eu desembarquei. Notei logo que ela desembarcou na mesma estação, por outra porta. Não deixou de ser engraçado vê-la saltitando alegremente enquanto corria em direção a um moço sentado numa das cadeiras da estação. Ele se levantou e a segurou com força no seus braços. Não eram namorados, pois não se beijaram, nem saíram de mãos dadas.
Não demorou muito para perder de vista no meio da multidão da Cidade Grande a minha paixonite do trem: a minha doce ruivinha, que talvez nunca mais terei o prazer de ver novamente. Mas... como é bom estar vivo!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Comentário sobre Ana Karênina

Por favor, não leia este post se você não leu e pretende ler Ana Karênina.
Neste momento leio o epílogo de Ana Karênina, de Leon Tolstói, livro que tem me ocupado nos últimos meses. Digo nos últimos meses porque a obra tem me ocupado por muito tempo, a leitura é densa e muitas vezes custa a avançar. A desconstrução da protagonista ao longo do livro é tão intensa que custa a acreditar que a mesma dama que consegue demover a cunhada Dolly da ideia de abandonar o marido que a havia traído com a preceptora dos filhos do casal usando argumentos convicentes e a mulher que, no ápice do ciúme e do desespero, atira-se sob a roda do trem sejam a mesma pessoa. Longe do julgamento de certo e errado, o que parece estar em jogo na obra é a necessidade de encontrar o prazer, acima dos "deveres sociais". A saída de Ana foi romper com a família entregando-se ao seu amante Vronski. Isso, porém, não a torna feliz, antes é motivo para mais angústia ainda, pois a mulher sabe que o amante agora era o seu único elo com a sociedade. Sem ele, não há esperanças para ela. O que a leva a concluir que a história da humanidade é apenas a história de pessoas que se odeiam mutuamente. O amor, já próximo à loucura, torna-se ódio cego; por isso, a morte de Ana soa para ela como uma vingança. Porém é na iminência da morte que as coisas tornam-se evidentes para ela: há sim prazer verdadeiro, sem culpa.
Livro excelente!

Observação: não poderia deixar de comentar isso: no ano passado voltava da faculdade tarde da noite. Já era quase meia-noite e a última coisa que esperávamos foi o tranco que interrompeu a viagem. As luzes apagaram-se e todos ficaram sem saber o que estava acontecendo. Depois de uma longa espera vimos um guarda andando ao lado do trem com uma lanterna. De repente ele parou ao lado da janela onde eu estava e gritou, apontando a lanterna para baixo: "Ele está aqui!". Vieram outras pessoas e olharam o cadáver do homem que havia se atirado, tal como Ana, embaixo do trem, dando cabo a sua vida. Depois de retirado o cadáver (não tive coragem de olhar), o trem prosseguiu a viagem. Tive, porém, tempo de ver o tênis do homem jogado no chão, próximo ao trilho. Voltei para casa impressionado, como vocês podem imaginar. No dia seguinte, comentei o fato com uma colega de trabalho. Ela ouviu com atenção e de repente exclamou: "Nossa! Igualzinho a Ana Karênina!". Bom, como vocês podem ver, eu comecei o livro já sabendo o final. Mesmo assim valeu percorrer todas as 750 páginas e encontrar a "verdade" por mim mesmo.
Que Deus tenha piedade daquele homem!

domingo, 30 de maio de 2010

Così è la vita

Nunca lhe perguntaram o que sentia; nunca lhe perguntaram o que pensava; no entanto, surpreenderam-se ao vê-lo tomar medidas tão extremas.
Nem mesmo ele sabia por que o estava fazendo, mas ali não sobrava espaço para arrependimentos, pelo menos não naquele momento.
O momento da ação é assim: uma libertação. Mas vale a pena ser livre assim?
Tudo pode, mas nem tudo lhe convém...
E não compreenderam, nem quiseram compreender.
Para quê, afinal de contas?
O salário irá cair pontualmente no quinto dia útil deste mês...

sábado, 29 de maio de 2010

O chifre do touro

Recentemente numa daquelas touradas idiotas (desculpem, não consigo encontrar outra palavra para esse evento tão inútil como esse), o touro atingiu o toureiro no queixo e o chifre atravessou totalmente sua pele, saindo pela boca, e o mais impressionante disso é que o fotógrafo conseguiu captar o exato momento em que o chifre podia ser visto brotando da boca do pobre homem.
A imagem me impressionou tanto que ficou gravada no meu cérebro por vários dias e todas as vezes que eu pensava no ataque, era como se eu mesmo tivesse sido atingido: em um determinado momento eu até mesmo consegui imaginar a dor que aquele homem sentiu e, angustiado, colocava a mão na garganta como que para me proteger daquela dor aguda e penetrante...
Nos dias seguintes, toda vez que alguém falava em touro, chifre ou qualquer coisa que lembrasse isso, vinha a imagem do touro e do homem, indefeso diante da fúria assassina do bovino, na minha cabeça, meus olhos se perdiam no vazio e eu tentava sacudir a ideia para bem longe, mas era inútil.
Mas o que fica é: para que serve esse tipo de espetáculo? Por que maltratam os animais?
Para aqueles que ainda não viram, aqui vai o link. Veja (ou não)!
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u738925.shtml

domingo, 9 de maio de 2010

O barbeador

No ano passado, numa daquelas crises que às vezes bate na gente, resolvi (às vésperas de terminar minha graduação) prestar a prova do Enem. Nem sei porque fiz isso, mas fiz. Ao sair do local da prova no segundo dia, no entanto, havia umas meninas distribuindo brindes e eu ganhei um barbeador daqueles que aparecem na televisão, que dizem deixar a pele do seu rosto igual a de um bebê. Fiquei muito feliz porque até hoje o meu rosto só tinha visto aqueles barbeadores baratinhos e, como sabia que provavelmente não veria um barbeador daquele tempo tão já, decidi, no mais alto da minha alma sovina, guardar o barbeador para uma ocasião especial, em que gostaria de ficar mais bonitão. A ocasião escolhida foi o casamento da minha priminha, marcado para a noite de ontem, pois eu seria um dos padrinhos e queria ir produzido, pois pertenço à espécie humana. Na hora de tomar banho chegou o momento esperado: peguei o barbeador (que pacientemente esperava sua hora na minha gaveta há quase seis meses) e fui com ele até o banheiro. Me lavei direitinho como manda o figurino e, com emoção indescritível, retirei o barbeador da embalagem e comecei a me barbear. Que sensação! Como o barbeador deslizava deliciosamente pela minha pele! Percebendo que talvez minha vida nunca mais seria a mesma, fui percebendo como minha pele ia ficando lisinha, feito bumbum de neném! Sensacional. Estava muito feliz. Eu sempre detestei me barbear, mas agora... Eu faria isso alegremente todos os dias! Quem sabe até duas vezes por dia? Ao terminar o serviço, coloquei o precioso barbeador num copo e peguei a toalha para me secar. Dei as costas por segundo e CRECK! Tinha colocado a parte mais pesada do objeto para cima e o copo acabou desabando diante do peso. O barbeador caiu debaixo da pia, quer dizer, só o cabo... porque a lâmina ficou no chão no meio do banheiro. Peguei as duas partes e tentei encaixá-las de novo, mas foi inútil. Joguei tudo no lixo e saí do banheiro pensando que a vida não tinha mudado tanto assim...

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Muito trabalho e pouco blog

Bom, dei uma sumida e no mês passado quase não escrevi no blog, o que não era a minha intenção, já que, se bem me lembro, queria escrever sempre e não falhar nunca. Incrível como nossos propósitos são fracos! Bom, mas de qualquer modo, quero me justificar: nesse mês tive muitas horas extras no trabalho para cumprir. Sabe quando se tem muita coisa para fazer, mas apenas 24 horas? Como não somos o Jack Bauer e precisamos dormir, comer e ir ao banheiro, a coisa fica difícil para quem é peão.
Ah sim, em tempo: adoro meu trabalho!
Saudações.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Aventura na selva de pedra e metal 2: no banco

Ser pobre às vezes é meio triste: você tem muitas contas bancárias, mas dinheiro que é bom, você não tem em nenhum delas... E o pouco que tem, tentam te tirar, sejam nos descontos em carteira ou pela sua própria conta corrente. Umas das minhas promessas para 2010 foi fechar algumas contas bancárias desnecessárias e ficar só com as duas que eu uso. Por isso, resolvi um dia desses sair mais cedo do meu trabalho para fechar a conta que eu tenho na Nossa Caixa, na qual eu recebia a minha bolsa da fapesp. Não que eu tenha qualquer coisa de expressamente contrária a esse banco, mas pensando prós e contas, decidi encerrá-la.
Sendo assim, pedi licença a minha chefinha, peguei o metrô e cruzei a cidade porque a minha agência fica na Cidade Universitária e eu trabalho no Tatuapé. Quase 1 hora e meia depois, descia do ônibus e caminhava na direção do banco cheio que esperanças. Chegando lá, retirei minha senha e com a maior paciência do mundo fiquei aguardando atendimento. Nem reparei o sistema tosquíssimo, em vez de um painel com as senhas, os funcionários ficavam gritando os números um após outro. Também nem notei a funcionária que, em vez de nos atender, ficou o tempo todo falando no telefone e resolvendo seus assuntos pessoais. Algum tempo depois outra funcionária chamou o meu número. O atendimento foi bom e graças a Deus ela não me fez perguntas e foi muito cordial comigo. O único problema era que eu precisava retirar uma graninha que havia sobrado na conta. O problema é que fazia um tempo já que eu não usava o banco e o sistema tinha mudado e eu não tinha mais senha; por isso fui obrigado a pegar uma senha para o caixa e retirar minha merrequinha ali mesmo. Pela multidão que se localizava na região das caixas, percebi que o atendimento não seria tão rápido. O que acontece é que estavam atendendo o número 62 e o meu número era 164! Relaxa e goza! Fiquei sentadão e esperei pacientemente a minha chamada. Algum (muito) tempo depois percebi que a impaciência era crescente, pois havia só três caixas nos atendendo. Alguns clientes começaram a reclamar uns com os outros. Passou-se mais de uma hora de espera, quando um dos funcionários levantou-se e declarou que eles ali estavam fazendo o melhor possível (e estava certo) e que se quisessem reclamar, que reclamassem com a gerente! Bom, ele nem precisava ter falado assim, pois retirou uma coisa que nenhuma multidão enfurecida admite: não ter alguém para culpar. Um dos clientes, um senhorzinho, surtou e começou a gritar com o funcionário que havia feito a declaração. Ele começou a xingar e dizer que meio mundo era incompetente. O funcionário foi perdendo a paciência e no auge gritou para os outros funcionários que atendessem bem devagar... Aí a confusão de instalou: faltavam cinco números para eu ser chamado e eu comecei a olhar ao redor, procurando algum lugar para me esconder, caso acontecesse alguma desgraça. Veio outro funcionário, todo sério, e começou a discutir com o senhorzinho, o que o deixou ainda mais enervado. Enquanto isso, no caixa, mais um funcionário começou a trabalhar, mas o engraçado é que ele não entendeu o que estava acontecendo e ficou apertando o botão de atendimento. Como todos estavam entretidos com a discussão, acho que ninguém notou isso, por isso, minha vez chegou rapidinho. Saltei na frente do caixa, peguei meu dinheiro e corri para fora do banco.
Saldo do dia: quase 4 horas no banco e eu nem tinha almoçado ainda. Para compensar, comi um pratão delicioso de gnocchi e comprei dois livros com o dinheiro que havia acabado de sacar... Feliz e contente, voltei para casa. Nem me lembrava mais do que tinha acontecido lá.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Pequeno testemunho

Sabe aqueles dias em que nada parece fazer sentido? Quando tudo parece pior do que realmente é? Quando parece que estamos sós no mundo? Quando estamos prestes a cair? Pois bem, eu tenho tido alguns dias como esse ultimamente. Na verdade, é uma sensação que vem de repente, por uma palavra ou ação qualquer num dia qualquer... E ela vai, também, silenciosa como veio. Acontece que era sexta-feira, e eu voltava para casa assim como descrevi. Os passos eram vagarosos, nem pensava em chegar em casa. Pensava apenas na "morte da bezerra", como se costuma dizer nesses casos. Já perto de casa, olhei para o outro lado da rua, na direção de uma voz que me chamava. Era um senhor que eu conheço de vista, nem sei seu nome. Um daqueles homens simples que gostam de conversar. Eu sempre o vejo na igreja: vai à missa da manhã religiosamente todos os domingos. Quando me viu, atravessou a rua e veio falar comigo com seu costumeiro sorriso. Não estava com muita vontade de falar e dei um sorriso amarelo, pois sabia muito bem que ele costuma passar bastante tempo a falar sem interrupção. Aborreci-me um pouco com isso. Enquanto ele falava, dei um jeito de encurtar a conversa e fingi estar com pressa. Antes de se despedir, ele retirou do bolso um pedaço de folha de caderno onde estavam escritas à mão as leituras bíblicas daquele dia (ele sempre anda com essas folhas por onde quer que vá). Separamo-nos e eu abri o papel, embora confesso não estar tão interessado naquilo no momento. Dei uma passada rápida pelas leituras: Ezequiel, Salmo, Apocalipse, Mateus... E no final: "A felicidade é uma consequência de nossa escolhas". Ao ler isso, quase chorei ali mesmo na rua. Era exatamente isso o que precisava ler. Evidentemente não era uma frase retirada da Bíblia, então, que Bom Espírito o moveu a escrevê-la? E como dizer que Deus não existe?

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Sambódromo de pobre ou O homem da bolota

Nesse Carnaval decidi passar como todos os anos: em casa, sem viajar. Em primeiro lugar, porque não sou tão adepto assim desta data (visto que me sinto mal em multidões); em segundo porque viajar nessa data é uma loucura! O Brasil inteiro querendo fazer a mesma coisa não dá! Mas aconteceu de sábado ter saído com alguns amigos para um bom e velho boliche.
Era noite já, e como sempre, eu voltava de trem para casa. O vagão estava um tanto vazio, mas mesmo assim preferi viajar em pé encostado à porta, olhando a paisagem que passava. Não havia muita gente pelas ruas (e olha que nem eram 21 horas!), mas numa avenida iluminada duas arquibancadas de mais ou menos 50 metros de comprimento cada, formando um corredor, revelou um sambódromo improvisado! Nem sei a que horas o "desfile" iria começar, mas uma meia dúzia de gatos pingados (como diria meu pai) estava aguardando nas arquibancadas. Achei tudo aquilo engraçado e fiquei ansioso para que a arquibancada passasse logo para que eu pudesse ver se já havia alguma escola posicionada. Ao final da passarela, um grupo de pessoas com fantasias se preparava para entrar. Em cima de um carro alegórico bem sem graça, por sinal, a destaque, quase nua (nem penas para cobri-la) tentava se posicionar na plataforma mais alta (que não devia ter nem 2 metros). Nem vou criticar o desfile, afinal nem todas as cidades tem sorte de serem tão ricas a ponto de receberem tanto incentivo para a "preservação da cultura"... O que se pode dizer? Pobre é pobre, mas diverte!
Logo depois, ouvi uma voz arrastada: "Quem puder ajudar..." Virei para trás e vi um homem vindo na minha direção. Com a camiseta levantada, mostrava o motivo de sua desgraça: um enorme tumor avermelhado (ou algo parecido) na lateral da sua barriga. A bolota era realmente grotesca, mas felizmente ela estava cuidadosamente protegida por um plástico. O homem caminhava com passos arrastados. Uma mulher sentada estava com olhos fechados e com cara de agonia. O espetáculo era terrível demais para ela. De repente, o homem parou e se virou na direção da mulher agoniada: o trem estava parado na estação e alguém na plataforma que estava passando gritou para ele que "os homi entrou". Imediatamente ele abaixou a camiseta e foi para o outro vagão. Por baixo da camiseta, a bolota parecia uma pochete mal colocada. A mulher abriu os olhos e continuou sua vida, feliz por tudo ter passado. O que ela não lembrou é que o homem ia continuar com a bolota e, ele sim, teria que vê-la de novo. "Mas pode ser mentira! O homem poderia ter colocado um pedaço de carne na barriga e prendido com aquele plástico", dirá alguém, mais cético. Pode até ser, quem sabe. É como naquela história de Pedrinho e o lobo. Só que às vezes pagamos também pelas mentiras dos outros. Vale a pena olhar as pessoas pelo papel que ocupam na sociedade ou vale mais a pena olhar as pessoas como indivíduos?

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Chuva eterna

Meu Deus! Tem chovido muito ultimamente! Durante aquele calor que só por Deus, à tarde cai aquele temporal na capital de São Paulo... E não é que qualquer chuva, não! É aquela chuva mesmo, com direito a trovões, enxurradas e por aí vai... Na última semana, a linha Coral da CPTM (que eu uso para ir ao trabalho e voltar dele) foi "desativada temporariamente" duas vezes! Na quarta-feira, a situação foi tão desesperadora que eu achei de verdade que não conseguiria voltar para casa. Mas no fim acabou dando tudo certo: cheguei bem mais tarde em casa, mas cheguei!
Na quinta-feira um pessoal do trabalho fez um bolão para ver quem acertava o momento exato em que a chuva começaria. Bom, nem sei o que deu, mas que choveu, choveu!
E a chuva continua, continua, continua...

sábado, 23 de janeiro de 2010

Aventura na selva de pedra e metal

Quinta-feira. A noite nem prometia tanto: ficaria no trabalho por mais duas horas para fazer hora extra. Já havia me resignado quanto a isso, quando a coisa configurou-se de modo diferente: não seria mais necessário ficar! Feliz e contente, desço a rua Tuiuti pensando em quantos níveis conseguiria subir no Mafia Wars naquela mesma noite, ao chegar em casa. Estava tão feliz que até mesmo o "Embarque Feliz", quer dizer, "Embarque Melhor" da CPTM pareceu-me ameno. Acabavam de chegar às 19 horas e eu já estava "aportando" em Guaianases. Desço do trem e observo o trem que vai para Mogi parado e cheio de gente a quase sair passageiros pela janela. "Esperemos o próximo! Afinal, pra que pressa?" (Não sei por que, mas sempre na sua segunda pessoa do plural.) Fico parado na plataforma à espera do próximo trem. Após alguns minutos, ali vinha ele, o caco velho. Nenhum outro trem vindo da Luz havia chegado ainda, de modo que pude embarcar sem problemas. Nem quis sentar e fiquei de pé mesmo ouvir minha musiquinha. Logo, logo, chegou mais um trem, e um bando de gente entrou correndo; alguns minutos depois, mais um trem; porém dessa vez, não havia mais lugar para uma pessoa minimamente sã entrar. Nem preciso dizer que uns brutamontes entraram à força, num fenomenal esforço para chegar alguns minutinhos mais cedo em casa... O trem sai. Sucesso! Iria chegar em casa bem cedo e poderia navegar no Facebook à vontade! O trem prosseguia seu caminho, mas antes mesmo de chegar à primeira estação o trem para. Alguns minutos de silêncio. Uma chuva fina começava a cair lá fora. Mesmo com os fones eu conseguia perceber a impaciência de alguns. Beija-santos. Suspiros. Rostos cansados. Súbito ouviu-se aquela rumor que faz o trem antes de sair; o trem, move-se... mas na direção contrária! Grito geral de insatisfação. "Maquinista filho-da-puta" e outras coisas semelhantes eu consegui ouvir mesmo com a música. TUM-TUM (tiro os fones para ouvir)... DEVIDO A AVARIA, ESTE TREM RETORNARA A ESTAÇAO GUAIANASES. Outro protesto coletivo. As reações foram diversas, teve quem ficasse batendo repetidas vezes na porta, outros resmungavam e teve até quem não demonstrasse reação alguma (uma japonesinha sentada a minha frente que olhava de um lado para outra, mas com um olhar nulo). Ouvi de uma mulher a seguinte frase, para mim incompreensível: "Por que não deixaram a gente sair ali mesmo", ou seja, no meio do nada onde o trem tinha parado. Quando o nosso trem cruzou com outro que ia sem problemas para Mogi, fiquei pensando nos homens que tinham quase se matado para entrar naquele trem.
Bem, voltamos a Guaianases e para nossa surpresa a estação até que não estava cheia. Descemos com a chuva já apertada. Ninguém sabia para onde ir. Informações desencontradas, alguns diziam que ia aparecer outro trem na plataforma central, outros foram a plataforma 4, pois juravam que seria ali o próximo trem, por fim, sobraram aqueles que continuaram no trem que voltou achando que seria aquele mesmo. No fim das contas estava todo mundo errado: TUM-TUM, PROXIMO TREM COM DESTINO ESTAÇAO ESTUDANTES PLATAFORMA 1. Mais um urro geral. Houve uma correria e alguns estúpidos acharam que seria aquele trem do meio do mesmo. Quem se tocou e foi esperto chegou lá sem problemas. Eu atravessei também, mas vi que não seria possível ir naquele trem. Depois de um tempo, chegou mais um trem vindo da estação da Luz.
TUM-TUM, PROXIMO TREM COM DESTINO ESTAÇAO ESTUDANTES PLATAFORMA 1. PROXIMO TREM COM DESTINO ESTAÇAO ESTUDANTES PLATAFORMA 1. PROXIMO TREM COM DESTINO ESTAÇAO ESTUDANTES PLATAFORMA 1. Fiquei parado ali olhando ao redor. Havia dois amigos parados do meu lado. Acho que eles estavam na mesma situação que eu, sem saber o que fazer. Quando o próximo caco velho de Estudantes chegou, ouvi o seguinte aviso: TUM-TUM, PROXIMO TREM ESTACAO ESTUDANTES PLATAFORMAS 2 E 3. Para encurtar a história: para meu espanto, acabei voltando no mesmo trem que havia nos trazido de volta no meio do caminho, que partiu logo após o trem da plataforma 1. A viagem foi calma, mas cheguei em casa com fome e com as pernas cansadas.
O que fica de lição para nós é que pobre só se ferra mesmo!
Bom, não joguei Mafia Wars no fim das contas, mas o lado bom é que perto de Suzano reparei numa linda moça sentada num dos bancos com o olhar meio perdido. Nossos olhares se encontraram e ela sorriu pra mim!
Quem dera a vida fosse aquele sorriso: doce e amena...

sábado, 16 de janeiro de 2010

Formado, até que enfim!

Bom, e finalmente chegou o tão esperado momento: eu terminei minha faculdade! Foram cinco longos anos e a coisa acaba assim: tão de repente! Parece mesmo que foi uma eternidade e devo dizer que foi uma excelente eternidade. Fiz grandes amigos, mas daqueles amigos que só aparecem poucas vezes na vida. Tive muita sorte: no meio de tanta gente sem-rumo, encontrei exatamente as pessoas que seriam meu apoio para que eu conseguisse sobreviver às intempéries. Por isso, agradeço a todos eles pela presença magnífica e por surportarem junto a mim os problemas e as dificuldades.
Quanto ao curso, não tenho do que reclamar. Eu realmente adorei cada matéria (quer dizer, algumas nem tanto assim!), adorei minha Iniciação Científica (obrigado, Adma!) e o principal: realizei um dos meus grandes sonhos, que era aprender a falar italiano.
Agora só me resta dizer um grande adeus (temporário para a USP e a FFLCH) e esperar que as próximas etapas da minha vida sejam tão gratificantes quanto foi esta.
Saudades.
Um grande abraço a todos os meus amigos: A.A.M.C., H.K.F.F., V.S.N., C.R., P.B.S., N.C.S.X. e E.A.F.! A todos vocês um salve.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Ano Novo!

O Ano Novo! É uma festa da qual eu quase não gosto. Não vou ser hipócrita: se eu tiver um lugar legal para ir, eu vou, mas se for para ficar em casa mesmo, eu fico. Afinal, qual a vantagem de esperar até meia-noite para ver outro dia começar? Apenas para "renovar as esperanças, os sonhos e os desejos"? Acho bem engraçado ver as pessoas fazendo a contagem regressiva, gritando (eu entre elas, quando fico bem animado) sem se lembrar que na semana seguinte temos de voltar ao mesmo trabalho (ganhando o mesmo salário), conviver com as mesmas pessoas e fazer as mesmas coisas que fazíamos antes. Qual a vantagem disso tudo? Daqui a pouco irão chegar as faturas de cartão de crédito, os boletos bancários, a conta de luz, a prestação do carro, o IPTU, a matrícula na faculdade e aí vai. Mas para falar a verdade eu até acho bom criarmos para nós mesmos a ilusão de que tudo está começando assim: novinho em folha. É uma sensação até que libertadora, embora para muitos acabe sendo meio inútil no final das contas. Apenas curtir o momento...
Bom, como não quero quebrar o protocolo, aproveito para dizer que 2009 foi um excelente ano para mim, pois nele realizei meu grande sonho de conhecer Roma, terminei a minha faculdade, conheci muita gente legal e aí vai. Claro que sempre desejamos que o ano seguinte seja bem bem melhor, não? Pois bem, espero a mesma coisa, afinal sou filho de Deus né?