"Minha meditação me queima, Senhor! Mas me deixai falar para me desafogar."
Jorge de Lima

domingo, 12 de setembro de 2010

Desventuras em Buenos Aires - Parte II

Esta é uma continuação do relato contido no post anterior. Se você ainda não conferiu, é melhor começar por ele...
Depois de fechar todas as malas e constatar que estava tudo em ordem, eu e minhas primas decidimos que seria bom se pudéssemos comer alguma coisa. Como não havia muito dinheiro e como não queríamos deixar as malas sozinhas no albergue, ficou decidido que eu ficaria ali na sala de tv com as malas, enquanto as meninas saíam para procurar um supermercado ou qualquer outro lugar onde pudessem comprar alguma coisa para comer.
As duas saíram e eu fiquei ali jogado no sofá. Estava sozinho, mas logo apareceu companhia: primeiro um moço com um touquinha azul ridícula que evidentemente se sentou ali para esperar alguém e depois um homem, que mais parecia um armário, se sentou ali para tomar uma cerveja sem o agito do bar, no andar de cima. No entanto, apesar da presença dos dois estava tudo em paz e, por isso, fiquei ali de boa sem ser incomodado por ninguém.
Logo minhas companheiras de viagem voltaram abarrotadas de comida. Levantei-me e fui com elas até umas mesinhas que ficavam ao lado da cozinha. Hora da comilança!
Mas algo me incomodava:
"Não é melhor a gente trazer as malas para cá, junto de nós?", perguntei.
"Não! Daqui dá para vê-las. Não é preciso.", respondeu minha prima.
Levando isso em conta, começamos a comer. Logo apareceu mais uma rapaz, amigo do touquinha-azul, que havia feito a mesma coisa que as meninas e trouxe comida para os dois. Eles também se sentaram a outra mesa.
Foi aí que começou a parte interessante da história. De repente a porta que dava para as escadas se abre e entra um moço de mais ou menos uns 25 anos, cambaleando tanto que nem conseguia ficar em pé. Ele estava completamente bêbado. Veio caminhando na nossa direção, e eu pensei que ele fosse querer falar com nós, mas ele passou direto e entrou no banheiro. Minha prima mais nova disse que ele fez um sinal para ela, que ela achou que fosse aquele que significa "Estou de olho em você!". Ela ficou com um pouco de medo, mas enquanto falávamos disse, o cara saiu do banheiro, parou ao nosso lado e disse com a voz mais molenga do universo e gesticulando do mesmo jeito que havia feito para minha prima antes de entrar no banheiro: "Descuuuuulpe, I haaave....." (as reticências representam a parte que não fomos capazes de entender). Ficamos olhando para ele com vontade de rir, mas tínhamos medo de ele irritar-se. Diante do nosso silêncio ele parou de falar e começou a fazer um gesto com a cabeça, dizendo: "No? No?". Então ele sacudiu os ombros e foi cambaleando até a sala de tv. Minha prima mais nova, como não podia deixar de ser, começou a rir com gosto do moço. Minha outra prima disse a ela para moderar o tom, pois o cara podia ficar bravo. Nesse meio tempo, o bebum conseguiu chegar lá e sentou-se ao lado do homem-armário, tentando puxar assunto com ele, que evidentemente não queria bater papo com um bêbado; por isso ele se levantou e sentou-se em outro sofá.
A porta se abriu de novo. Dessa vez entrou o coleguinha do bêbado. Ele segurava uma taça de vinho e, como o outro, mal conseguia parar em pé! Os dois fizeram sons naquela língua estranha de bêbado quando se reconheceram e o segundo bêbado também foi à sala de tv. Minha prima mais nova, sempre aos risos: "Ah lá! Ele batizou o chão e o sofá com vinho!". De fato, o cara mal conseguia segurar a taça e derrubou quase todo o seu conteúdo. Depois de colocar o "vaso sagrado" na mesa, ele voltou até a escada e voltou carregando o fio de um computador, como se fosse um pêndulo. Nesse momento, ninguém na sala fazia muita questão de esconder que estava dando risada dos dois. A seguir foi a vez de ele trazer um computador. Os dois colegas sentaram lado a lado no sofá e ficaram um pouco em silêncio. Continuamos a comer, agora conversando sobre outras coisas.
De repente minha prima mais nova: "Eles estão no maior love!". Quando me virei, o segundo bêbado usava o computador, e o primeiro repousava a cabeça no ombro do amigo num gesto de cooperação e amizade entre bêbados! Não satisfeitos com o estado em que se encontravam, o segundo decidiu acender um baseado, ali no meio da sala de tv mesmo. Aquele cheiro horrível de maconha invadiu a sala, mas logo passou.
Depois de um tempo, o segundo fechou o computador, e os dois se levantaram e saíram abraçados, pois pensavam assim que conseguiriam andar. Eles pararam perto do touquinha-azul e seu amigo e tentaram conversar com ele, mas o moço, como a gente, só ficou dando um sorriso amarelo. Então os dois, mais para lá do que para cá, saíram da sala. Todos começaram a dar risada dos dois, até o homem-armário, que, de volta ao seu lugar, olhava para nós rindo à beça.
Me pergunto se aqueles dois conseguem sobreviver sozinhos...

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