Às vezes o tempo parece fugir das nossas mãos. Isso todo mundo sabe e entende muito bem. Em São Paulo, as pessoas sempre me fazem sentir que estou atrasado para alguma coisa, para "pegar meu lugar no futuro", como diria a música de Paulinho da Viola. É sempre a mesma correria e quase não há tempo para apreciar os pequenos prazeres da vida, que nos fazem esquecer temporiamente esse deserto árido que são as nossas preocupações rotineiras.
Eram três da tarde e eu ainda não havia comido nada. Era muito tarde para almoçar, porém, muito cedo para jantar, então me contentei com o dogão da praça mesmo. Estava pronto para "macabear", do mesmo modo que a heroína do romance de Clarice Lispector.
"Senhor, eu quero um cachorro quente completo e uma Coca Cola", pedi. O dono da barraquinha era um senhorzinho magricela de cabelos brancos, desses que parecem conter todo um universo dentro de si. Sem nenhuma palavra, ele me entregou a lata de Coca Cola e foi preparando o meu lanche. Eu esperava olhando ao redor, com o olhar vago, como sempre faço quando estou entendiado. Algum tempo depois ele me passou o sanduíche e depois me deu as costas. Enquanto minha boca faminta dava a sua primeira mordida no lanche, o homem se virou de novo com a mão estendida; nela havia outra lata de Coca Cola, que ele queria me passar.
"O senhor já tinha me dado a Coca Cola...", disse eu. Nesse momento ele me pareceu um pouco confuso, mas logo ele colocou a lata de volta na caixa e me deu um sorriso. "Meu filho", começou ele, "quando você tiver a minha idade você vai entender o que um homem passa na minha idade...". Tentando ser simpático e conciliador, retruquei: "Mas essa é uma boa idade também, não?" E ele: "Eu tenho 75 anos e sei que cada idade tem o seu melhor e o seu pior. Primeiro vem a infância, depois a adolescência, a idade adulta e então chega a velhice. Dizem por aí que a minha idade é a 'melhor idade', mas essa é a maior besteira que existe. Ninguém quer ser velho. Se pudessem, todos ficariam jovens para sempre. A melhor idade é a sua. Você é saudável e sua mente está chegando ao auge." Ia retrucar alguma coisa, mas diante daquele discurso tão convincente o que eu poderia dizer? Tentei algo: "Mas já que todo mundo envelhece, eu quero chegar à sua idade com saúde para trabalhar também". A resposta dele foi simples: "Eu não. Gostaria de aproveitar minha velhice na praia. Mas não posso viver assim só com aposentadoria, então, por isso, tenho de trabalhar. Meu corpo já não é mais o mesmo. Amigo, enquanto puder, aproveite bem a vida porque ela é única. Depois não tem como voltar atrás...". Depois de dizer isso, ele passou a atender uma moça que havia acabado de chegar.
Terminei de comer o meu cachorro quente enquanto pensava no que ele havia dito. Realmente, essas pessoas de São Paulo sempre me fazem sentir que estou atrasado para alguma coisa...
sábado, 30 de julho de 2011
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"Gostaria de aproveitar minha velhice na praia". =)
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