"Minha meditação me queima, Senhor! Mas me deixai falar para me desafogar."
Jorge de Lima

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Máscara

A música me faz esquecer o que está ao redor. Foi provavelmente por esse motivo que eu levei um baita susto ao ver, parado, sobre um bicicletinha velha, um homem conversando com uma mulher. Mas, o que há de tão estranho? É que ele estava usando uma máscara! Uma máscara assim no meio da rua, numa tarde de segunda-feira! Não entendia o motivo de tanta morbidez.

Apertei os olhos. Estava duvidando de mim mesmo. Cheguei a pensar que já precisava trocar as lentes dos meus óculos, mas era uma máscara mesmo, e daquelas bem horrendas, de colocar medo em qualquer um. Os olhos inexpressivos e ameaçadores. O quase sorriso. A pele sem marcas, nem de riso, nem de choro. O que ele estava fazendo ali? Por que estava parado conversando? Por que não ia embora?

Eu estava me aproximando... Minha casa ficava para o outro lado. Tinha de passar por ali de qualquer jeito, mas e aquela máscara? Pensei em mudar de rumo, ir para outro lado, mesmo que demorasse mais para chegar em casa, mas não poderia fazer isso, afinal a máscara poderia vir atrás de mim. Eu precisava mostrar que não tinha medo, que era mais forte que ela, por isso, continuei meu caminho.

Acelerei o passo. Acho que fiz um barulho desnecessário porque a máscara olhou para mim... mas não era máscara, era uma cara muito sofrida, cheia de rugas, infeliz, lacrimejante. Meu coração pulsou de alívio. Não era máscara, era homem. Atravessei a rua e dei uma última olhada para trás. A máscara estava ali de novo, a encarar-me frontalmente. O quase sorriso gelou a minha espinha. Virei a cara e prossegui meu caminho.

2 comentários:

  1. Nossa, me deu aflição! Brrrr... O texto ficou ótimo. Aliás, bom ver que o senhor está retomando a escrita! =)

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  2. "Baseado em fatos reais"... Brigadão, Andrea!

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