"Minha meditação me queima, Senhor! Mas me deixai falar para me desafogar."
Jorge de Lima

domingo, 30 de maio de 2010

Così è la vita

Nunca lhe perguntaram o que sentia; nunca lhe perguntaram o que pensava; no entanto, surpreenderam-se ao vê-lo tomar medidas tão extremas.
Nem mesmo ele sabia por que o estava fazendo, mas ali não sobrava espaço para arrependimentos, pelo menos não naquele momento.
O momento da ação é assim: uma libertação. Mas vale a pena ser livre assim?
Tudo pode, mas nem tudo lhe convém...
E não compreenderam, nem quiseram compreender.
Para quê, afinal de contas?
O salário irá cair pontualmente no quinto dia útil deste mês...

sábado, 29 de maio de 2010

O chifre do touro

Recentemente numa daquelas touradas idiotas (desculpem, não consigo encontrar outra palavra para esse evento tão inútil como esse), o touro atingiu o toureiro no queixo e o chifre atravessou totalmente sua pele, saindo pela boca, e o mais impressionante disso é que o fotógrafo conseguiu captar o exato momento em que o chifre podia ser visto brotando da boca do pobre homem.
A imagem me impressionou tanto que ficou gravada no meu cérebro por vários dias e todas as vezes que eu pensava no ataque, era como se eu mesmo tivesse sido atingido: em um determinado momento eu até mesmo consegui imaginar a dor que aquele homem sentiu e, angustiado, colocava a mão na garganta como que para me proteger daquela dor aguda e penetrante...
Nos dias seguintes, toda vez que alguém falava em touro, chifre ou qualquer coisa que lembrasse isso, vinha a imagem do touro e do homem, indefeso diante da fúria assassina do bovino, na minha cabeça, meus olhos se perdiam no vazio e eu tentava sacudir a ideia para bem longe, mas era inútil.
Mas o que fica é: para que serve esse tipo de espetáculo? Por que maltratam os animais?
Para aqueles que ainda não viram, aqui vai o link. Veja (ou não)!
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u738925.shtml

domingo, 9 de maio de 2010

O barbeador

No ano passado, numa daquelas crises que às vezes bate na gente, resolvi (às vésperas de terminar minha graduação) prestar a prova do Enem. Nem sei porque fiz isso, mas fiz. Ao sair do local da prova no segundo dia, no entanto, havia umas meninas distribuindo brindes e eu ganhei um barbeador daqueles que aparecem na televisão, que dizem deixar a pele do seu rosto igual a de um bebê. Fiquei muito feliz porque até hoje o meu rosto só tinha visto aqueles barbeadores baratinhos e, como sabia que provavelmente não veria um barbeador daquele tempo tão já, decidi, no mais alto da minha alma sovina, guardar o barbeador para uma ocasião especial, em que gostaria de ficar mais bonitão. A ocasião escolhida foi o casamento da minha priminha, marcado para a noite de ontem, pois eu seria um dos padrinhos e queria ir produzido, pois pertenço à espécie humana. Na hora de tomar banho chegou o momento esperado: peguei o barbeador (que pacientemente esperava sua hora na minha gaveta há quase seis meses) e fui com ele até o banheiro. Me lavei direitinho como manda o figurino e, com emoção indescritível, retirei o barbeador da embalagem e comecei a me barbear. Que sensação! Como o barbeador deslizava deliciosamente pela minha pele! Percebendo que talvez minha vida nunca mais seria a mesma, fui percebendo como minha pele ia ficando lisinha, feito bumbum de neném! Sensacional. Estava muito feliz. Eu sempre detestei me barbear, mas agora... Eu faria isso alegremente todos os dias! Quem sabe até duas vezes por dia? Ao terminar o serviço, coloquei o precioso barbeador num copo e peguei a toalha para me secar. Dei as costas por segundo e CRECK! Tinha colocado a parte mais pesada do objeto para cima e o copo acabou desabando diante do peso. O barbeador caiu debaixo da pia, quer dizer, só o cabo... porque a lâmina ficou no chão no meio do banheiro. Peguei as duas partes e tentei encaixá-las de novo, mas foi inútil. Joguei tudo no lixo e saí do banheiro pensando que a vida não tinha mudado tanto assim...